sábado, 3 de setembro de 2011

" Solidão , essa doença "

Professor universitário e membro titular

Da Academia Nacional de Medicina,José J.Camargo


Numa clínica de dor em Madrid - na entrevista de cinco pacientes novos,o coordenador explicou que precisava avaliar o nível de sofrimento do grupo,e pediu,que cada um classificasse sua dor,de :1( um ) a 10(dez),sendo 10( dez ) a maior imaginável.O primeiro não deixou por menos: cravou um dez com convicção.O segundo assumiu o mesmo escore,talvez temendo merecer menos atenção.O terceiro paciente,com a imagem da dor estampada,afirmou que na sua escala de sofrimento,17( dezessete ) ficaria bem.O quarto,impressionado com o martírios de seus pares,admitiu que 9 seria provavelmente,mais justo,.


O último paciente,um pouco envergonhado,referiu que sua graduação era 1 ( UM)

Quando o médico questionou sua presença nesta clínica - já que ele não deveria sentir dor - , ele afirmou:" eu tenho câncer como todos aqui,e como todos aqui,também vou morrer.Acontece que não tenho ninguém para cuidar de mim.Eu sei que isso não tem escore, mas podem acreditar que esta solidão é a p ior dor"...sim a pior dor,é a solidão.


O Código Internacional de Doenças ( CID ), por pura distração,ainda não catalagou a solidão como doença,mas ela é, sem dúvida , a grande enfermidade da sociedade contemporânea.

A promiscuidade afetiva da vida moderna,e a fantástica capacidade de interação instantânea contribui para a falsa sensação de que não estamos sozinhos.


Porém quando uma circunstância especial como a doença restringe a nossa capacidade de comunicação , percebemos que a ilha da fraternidade que construímos com milhões de mensagens e torpedos afetuosos é pura fantasia.


O Paciente , fragilizado pela ameação da morte,sempre buscou na palavra do

médico mais do que a promessa de ajuda.Ele quer um compromisso da parceria,admitindo que não ter com quem dividir sofrimento,só faz multiplicá-lo.


Quem trabalha com transplante,por exemplo,descobre no convívio com o desespero levado ao limite,que a disposição para lutar pela vida depende de uma equação simples: " amor,pra dar/ amor para receber.


Os ricos de afeto ultrapassam todas as estimativas de sobrevida porque lhes encanta viver.Por outro lado,é triste flagrar o desinteresse com que os mal amados encaram a perspectiva de batalhar por uma vida que lhes negou a generosa cumplicidade do amor compartilhado.

Certo estava quem escreveu que a maior tragédia do homem é o que morre dentro dele, enquanto ele ainda está vivo !!!







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