domingo, 11 de setembro de 2011

Conexão com um tempo...



Um tempo que nem existe,e existirá?

Se considerarmos que o que existe mesmo é o presente, por que dizem que é tão importante viver o tempo futuro? Qual é, afinal, nossa conexão com um tempo que ainda não existe e que nem sabemos se existirá? Acompanhe esta história: o Paraná tem um símbolo que é praticamente desconhecido fora daquele estado: a gralha-azul. Trata-se de uma ave da família dos corvídeos, que encanta pela beleza de suas penas azuis, gradualmente mais escuras na cabeça e no peito

O Paraná tem um símbolo que é praticamente desconhecido fora daquele estado: a gralha-azul. Trata-se de uma ave da família dos corvídeos, que encanta pela beleza de suas penas azuis, gradualmente mais escuras na cabeça e no peito. Para os paranaenses, esse animal-símbolo é tão importante que, diz a lenda, um caçador que tente acertá-lo com um tiro verá sua espingarda negar fogo ou até explodir, pois a gralha-azul é protegida dos espíritos da floresta das araucárias.


Tal devoção deve-se a uma característica do pássaro: ele é o responsável pela disseminação da Araucaria angustifolia, o majestoso pinheiro paranaense, que já recobriu a quase totalidade daquele estado e também de boa parte de toda a região Sul e de São Paulo.


O detalhe curioso fica por conta do método empregado pela gralha: ela enterra os pinhões e, destes, nascerão novos pinheiros. Trata-se então de uma semeadora compulsiva e incansável, que dedica sua vida à proliferação da bela árvore. A explicação para tal comportamento é que a gralhinha tem duas características: preocupação com o futuro e péssima memória. Enterra as sementes com a intenção de guardá-las e consumi-las mais tarde, mas esquece-se de onde as guardou, possibilitando assim sua germinação.

A gralha-azul é um dos poucos exemplos que colhemos no mundo natural de animal que tem preocupação com o futuro. Bichos têm consciência do presente, do aqui e agora, das necessidades imediatas, mas, com raras exceções, como a do pássaro sulista, vivem em total despreocupação com o dia de amanhã. Não conhecem tempo, não têm noção de futuro e, do passado, guardam apenas as memórias que reforçam seus instintos. E é nesse capítulo que encontramos um imenso diferencial humano: nós, sim, conhecemos o conceito de tempo. Sabemos que o presente em que nos encontramos tem conexões com um tempo que passou e com um tempo que virá.

Nunca saberemos quando o homem começou a ter tal noção de tempo, mas sabemos que somos a única espécie dotada de consciência temporal. A memória do passado e, principalmente, a imagem do futuro são qualidades mentais sofisticadas demais para qualquer outra espécie que não a humana. Nosso córtex cerebral é a parte mais elaborada de nosso cérebro e, com tais características, é uma exclusividade humana. Uma das qualidades do córtex é a análise de um número muito maior de variáveis a cada processo de tomada de decisão, entre elas, o tempo. Somos capazes, por exemplo, de adiar o prazer, e até aceitar algum sofrimento, desde que ele esteja a serviço de um futuro mais prazeroso. Essa é uma das vantagens competitivas que nos permitiram assumir uma posição de mando e controle no planeta, ainda que haja tanto descontrole.


Entretanto, mesmo entre nós, racionais, conscientes de nossa posição neste mundo e neste tempo, há variações na maneira de fazermos conexões com o futuro. Pelo menos três categorias são bastante claras, e, entre elas, diferentes graus de profundidade podem ser identificados: o descaso, a previsão e a construção. Vamos a elas.


• O descaso: Nesta categoria colocamos todos os que não se preocupam com o futuro, apesar de saberem que ele existe. Pare estes cabe a expressão latina carpe diem, que quer dizer “viva o presente”. É uma recomendação que se faz à pessoa que diz que será feliz, ou realizada, ou tranquila, “quando” acontecer alguma coisa. Quando se formar, quando comprar sua casa, quando ganhar dinheiro, quando casar, quando... Para esse tipo de pessoa, a felicidade é um projeto e não o que deve ser, um estilo de vida. Para uma pessoa assim, carpe diem nela!


O carpe diem com recomendação para que se aproveite o presente é excelente, mas, como desculpa para ignorar o futuro, pode virar uma armadilha. O que não dá para esquecer é que o futuro vai virar presente, e que este será melhor ou pior a depender das ações de hoje. Tudo está conectado, um ato de hoje terá repercussão amanhã.

< Eugenio Mussak>

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