sábado, 6 de maio de 2017

vinicius torres freire

Economia despiora, Temer afunda

O NÍVEL DE insegurança político-econômica dos brasileiros diminui. O desprestígio do governo baixa aos níveis de "Fora, Temer!", por assim dizer, por analogia com a impopularidade fatal que contribuiu para os "Fora, Dilma!" e "Fora, Collor!".

É o que indica o Datafolha. A série histórica de dados do instituto sugere também que um tumulto qualquer adiante pode requentar a crise econômica, mas não apenas.

O receio de que a inflação vá aumentar voltou ao nível médio dos últimos 23 anos. O medo do desemprego se aproxima disso.

No entanto, como já se escreveu aqui nestas colunas: "Uma análise de 20 anos de números do Datafolha indica que nem sempre a expectativa de alta nos preços está relacionada à inflação do momento ou de notícias de carestia futura, mas também ao noticiário e a expectativas políticos, por exemplo".

A insegurança dos brasileiros chegou a máximas históricas em fevereiro de 2015, logo após o choque decorrente do estelionato eleitoral de Dilma, e por aí ficou por um ano, até pouco antes do impeachment.

Foi um nível parecido ao do medo provocado pelos choques da desvalorização do real (início de 1999) e do "apagão" (do racionamento de eletricidade, meados de 2001), ambos sob FHC.

Nos meses em torno das eleições presidenciais, o otimismo "econômico" (inflação e emprego) costuma ir às alturas, não importa se a inflação e tudo mais está explodindo, como foi o caso da eleição de Lula, em 2003.

Em resumo, o eleitorado parece associar suas expectativas econômicas também a choques e esperanças relacionadas à política. Estelionatos e frustrações de promessas eleitorais, tumultos, choques e escândalos em Brasília, confiança em um presidente, tudo isso afeta a segurança socioeconômica.

Temer tem um quê de ponto fora da curva. A impressão ou esperança de que a situação econômica melhora não evita um repúdio terminal ao governo. O que se pode especular?

Um argumento governista diria que a economia não melhorou "ainda" o suficiente para que o eleitorado faça melhor juízo do presidente. O histórico do Datafolha não respalda muito tal hipótese. Economia só não basta.

Desde a queda de Dilma, entre 60% e 80% dos eleitores dizem nas pesquisas querer eleições diretas, "já": nem Dilma, nem Temer. As reformas trabalhista e da Previdência deram cabo do resto mínimo do prestígio presidencial. Seu ministério em geral teratológico e o nojo geral dessa elite política foram pás de cal.

Mesmo com a baixa da insegurança econômica, Temer despencou ainda mais.

Parece implausível que o presidente se recupere, mas o problema nem está aí. Tumultos na política derrubam a confiança econômica. Foi assim no fim do ano passado, quando o Congresso tentava aprovar leis para fugir da polícia, havia conflitos entre o Supremo e parlamentares etc.

Em breve virão as votações da reforma trabalhista e previdenciária. Derrotas decisivas do governo tendem a provocar algum treme-treme financeiro, "nos mercados", o que também balança o ânimo geral.

A repulsa ao governo Temer, pois, pode provocar derrotas no Congresso, colocar na retranca os donos do dinheiro e assustar o cidadão comum, o que pode abalar a quase nula recuperação econômica.

É um nó

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